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Com início na serra da Lapa, no seu percurso até às águas da ria de Aveiro, o rio Vouga faz uma longa viagem de aproximadamente 148 km.

 

 

É fascinante e inestimável a biodiversidade que alberga e que o envolve. O reconhecimento internacional deste valor natural e importância na conservação de diversas espécies selvagens faz com que Sever do Vouga integre a lista de Sítios de Interesse Comunitário (SIC) da Rede Natura 2000.

 

Este SIC abrange 2.769 ha que se distribuem pelos concelhos de Águeda, Albergaria-a-Velha e Sever do Vouga.

Fauna
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Neste sítio ocorrem diversos habitats listados no Anexo B-I Diretiva Habitats (92/43/CEE), sendo considerado um refúgio de biodiversidade pela ocorrência de várias espécies de peixes, anfíbios, répteis e mamíferos com estatuto de proteção internacional.

 

Não se espante ao encontrar espuma, aqui e ali, na vegetação. Há quem lhe chame de cuspo-de-cuco, mas esta espuma é produzida por ninfas de cigarrinhas, da família Cercopidae, que cobre todo o seu corpo para se proteger da dessecação e afastar potenciais predadores. Existem insetos que, devido à sua importância e declínio das populações, têm proteção legal, como é o caso da vaca-loura (Lucanus cervus), o maior escaravelho da europa, cujo estatuto de conservação da espécie é Quase Ameaçada, e que consta no Anexo B-II da Diretiva Habitats. Vive apenas um a dois meses no estado adulto, com o objetivo de se reproduzir. Durante a maior parte do ciclo de vida é uma larva, durante cerca de três anos, alimentando-se de matéria morta, fundamental para a regeneração das florestas. Outros insetos, como as borboletas, reúnem consenso quanto à sua beleza. As formas e as cores das asas podem ser muito bonitas e interessantes. E tal como outras características físicas, as cores também desempenham funções que vão depender da espécie: ora servem para comunicar, ajudando machos e fêmeas a reconhecerem-se, ora para evitar predadores, por exemplo, através da camuflagem.

 

Uma das espécies de borboleta que aqui pode encontrar é a Euphydryas ourina, que consta do Anexo II da Diretiva Habitats.

 

Os anfíbios são animais inofensivos e extremamente sensíveis e vulneráveis a perturbações no seu ambiente. Perante uma ameaça, optam por fugir. Este grupo de animais inclui os sapos, as rãs, as relas, as salamandras e os tritões.

 

Existe um vasto número de espécies que, tal como é indicado pelo nome, têm vida dupla, pois durante o seu ciclo de vida alternam entre as fases aquática e terrestre ou semi-aquática. Entre os urodelos, repare no contraste das cores da salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra), na camuflagem do tritão-marmoreado (Triturus marmoratus) e a barriga laranja do tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai). O tritão-marmoreado faz parte da lista do Anexo IV da Diretiva Habitats. Começamos por um que tem um nome muito peculiar, o sapo-parteiro-comum (Alytes obstetricans), presente no Anexo B-II da Diretiva Habitats. O nome fica a dever-se ao papel ativo que o macho tem nos cuidados com as suas crias, à semelhança de um parteiro humano. Depois de a fêmea depositar os ovos numa poça ou charco, o macho entra em ação e fertiliza os ovos. De seguida, enrola-os à volta das suas patas traseiras, até chegar o tempo de os girinos eclodirem. Nessa altura, o macho cuida dos girinos, protegendo-os de predadores, por exemplo. A rã-ibérica (Rana iberica), outro exemplo de um anuro, também consta do mesmo Anexo devido à sua fragilidade e importância biológica. O sapo-comum (Bufo bufo) ocorre numa grande variedade de locais com condições diversas, uma vez que não apresenta grandes restrições ecológicas. Pode ser observado em zonas húmidas ou secas, abertas ou com vegetação densa, em meios naturais, cultivados ou nas imediações de áreas habitadas. Mas, afinal, onde pode observar os anfíbios? Devido à sua dependência dos meios aquáticos, especialmente durante a reprodução e a fase larvar, encontram-se normalmente em locais com níveis de humidade elevados e com água disponível. Podemos encontrar espécies de duas das atuais ordens de répteis: Testudines (cágados e tartarugas) e Squamata (cobras e lagartos). Para dar alguns exemplos, comecemos pela lagartixa-ibérica (Podarcis hispanica), conhecida como sardanisca, com padrões de coloração muito variáveis entre indivíduos da própria espécie. É relativamente abundante e fácil de ser vista, por partilhar, desde que seja mantida alguma distância, parte das zonas exteriores frequentadas habitualmente por pessoas, como os jardins. A lagartixa-do-mato (Psammodromus algirus) também é uma espécie muito comum. No corpo de tonalidade pardacenta, destacam-se um par de listras longitudinais claras, de cada lado dos flancos. Durante a reprodução, na primavera, o dimorfismo sexual é acentuado. Os machos ficam cor de laranja nos lados da cabeça e na garganta. Podem também apresentar uns sarapintados de cor verde-limão e pequenos ocelos azulados, dispersos pelo flanco. Estas cores exuberantes servem para conquistar a parceira!

 

E entre os répteis que são do tipo lagarto, não podemos deixar de referir o sardão (Lacerta lepida). É de todos o maior, podendo atingir 80 cm de comprimento. Mas, às vezes, enfrenta a ameaça, abre a boca e sibila, chegando mesmo a saltar para o potencial inimigo. Apresenta um padrão de coloração ao longo do dorso muito vistoso, com um contraste entre o verde vivo e o preto. Nos flancos, apresenta ocelos azuis, orlados de preto. Neste caso, o macho distingue-se da fêmea por ter a cabeça consideravelmente mais larga. Tem estatuto de conservação Quase Ameaçado, o que significa que a sua sobrevivência também é delicada. Comummente conhecido como licranço, o Anguis fragilis tem aspeto de cobra, mas não é uma cobra. Afinal de contas, o que é o licranço? Apesar do seu aspeto serpentiforme, o licranço é um lagarto, mas desprovido de membros! O corpo tem uma aparência lisa. Quase não é possível diferenciar a cabeça e a cauda do resto do corpo. Tal como acontece noutros lagartos, tem a capacidade de soltar a cauda quando se sente ameaçado, para ter a possibilidade de fugir. Embora seja objeto de mitos e crenças populares, é um animal inofensivo. Aqui ficam exemplos de algumas cobras por aqui residentes. Comecemos pela mais conhecida, a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus). É o maior ofídio da europa, podendo chegar a ter mais de 2 metros. Tem olhos grandes e possui escamas supraoculares proeminentes, o que lhe dá um ar um pouco assustador. E, como o nome indica, alimenta-se principalmente de ratinhos e outros roedores, mas não só. Uma variedade de pequenos mamíferos, aves, répteis, incluindo outras cobras, fazem parte da sua dieta. É uma espécie ecologicamente generalista, que se tem adaptado às alterações produzidas na paisagem pelo ser humano, podendo ocorrer em zonas mais urbanas. Devido a esta proximidade, muitos indivíduos morrem atropelados ou mortos deliberadamente por pessoas. Atenção! Tem veneno… Mas, como possui as estruturas inoculadoras em posição posterior, não consegue inocular o veneno como defesa, usando-o apenas para facilitar a digestão das suas presas. Sendo assim, mesmo em caso de uma mordedura acidental num ser humano, normalmente não consegue inocular o veneno dessa forma. O nome da cobra-de-água-viperina (Natrix maura) também nos dá informação sobre o que esta espécie precisa: a água. Habita junto de pontos de água, é uma boa nadadora e depende do meio aquático para se alimentar. A cobra-de-escada (Elaphe scalaris) é mais uma que conta para lista de exemplos de animais com má fama, mas que não apresenta perigo para o ser humano. Neste caso, o nome tem uma razão diferente, pois está relacionado com a coloração dorsal dos juvenis, que apresenta duas linhas escuras ao longo do corpo ligadas por linhas transversais, assemelhando-se a uma escada. Curiosamente, gosta de trepar. É também vítima de atropelamentos, por procurar o calor retido no asfalto das estradas, para se aquecer durante a noite.

 

Agora oiçam as aves. Por exemplo, a cigarrinha-ruiva (Locustella luscinioides), que deve o nome ao seu canto característico, um trinado contínuo, semelhante a um inseto. É uma das várias espécies que é alvo de grande preocupação, tendo-lhe sido atribuído o estatuto de conservação Vulnerável. Outra ave que pode ser encontrada pelo som é o pica-pau-malhado-grande (Dendrocopos major), cujo som produzido pelo bater do bico nos troncos das árvores é sinal da sua presença. A audição e a visão são os sentidos mais importantes e mais desenvolvidos nas aves, especialmente nas aves noturnas. Ao observar uma ave com atenção, conseguirá saber algumas das características da espécie, nomeadamente qual a sua alimentação e o tipo de voo que faz. O tamanho do bico, relativamente ao tamanho do corpo, a sua forma e robustez dão-nos informação sobre a alimentação. Tomemos como exemplo o chamariz (Serinus serinus) e o verdilhão (Carduelis chloris): com um bico forte e cónico, são especialmente competentes para partir grãos e sementes. Já se for uma ave que se alimenta de pequenos invertebrados que se encontram no solo e nas árvores, o bico será fino, para funcionar como uma pinça e apanhar pequenos insetos e larvas, como é o caso do chapim-preto (Parus ater). Já as aves que caçam presas em pleno voo, a evolução do seu bico tornou-o pequeno e a boca relativamente grande. A andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) é um exemplo que podemos ver, nos seus voos rasantes ao entardecer, enquanto se alimentam. Um bico poderoso e em forma de gancho é útil para desfazer pele, tendões e músculos. É o caso da águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) e da coruja-das-torres (Tyto alba). A coruja-das-torres pertence ao grupo de aves noturnas e por isso dificilmente será observada. Ajuda a controlar as populações de roedores. Já as aves que têm uma alimentação diversificada não apresentam um bico especializado num tipo de alimento, como é o caso do gaio (Garrulus glandarius) e da gralha-preta (Corvus corone), espécies que estão referidas no Anexo II da Diretiva Aves. As asas e outras características estão relacionadas com a forma como as aves voam, de forma a reduzir a resistência ao vento e, assim, o gasto de energia. Se se trata de uma ave que faz voos rápidos, as suas asas serão compridas e afiladas, como é o caso do andorinhão-preto (Apus apus). Já a pega-rabuda (Pica pica), presente no Anexo II da Diretiva Aves, como bate as asas mais lentamente, tem asas mais curtas e arredondadas. Algumas aves, pela proximidade quotidiana com os seres humanos, são facilmente reconhecidas, como o pombo doméstico (Columba livia domestica) e o pardal-comum (Passer domesticus). Ambos têm no nome a referência a doméstico, o que significa que, ao longo de gerações, foram evoluindo na proximidade com os humanos e acumulando diferenças relacionadas com essa proximidade, afastando-se das características do ancestral selvagem. Um exemplo de uma espécie que apresenta dimorfismo sexual é o melro (Turdus merula), em que os machos são completamente pretos, com bico e contorno dos olhos de cor laranja, enquanto as fêmeas são acastanhadas. O melro também é facilmente avistado pela proximidade que permite, podendo ser observado em zonas urbanas, e porque se encontram muito frequentemente ao nível do solo, onde se alimentam. Também aparece referido no Anexo II da Diretiva Aves. Noutras espécies, o dimorfismo é menos notório. No caso do pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), a diferença está ao nível do tamanho, sendo o macho normalmente mais corpulento do que a fêmea. A maioria das aves que habitam por cá são sedentárias, ou seja, permanecem o ano todo. Por sua vez, a andorinha-das-chaminés é estival, o que significa que a podemos observar durante o verão, enquanto o lugre (Carduelis spinus) é uma espécie invernante.

 

Além da maioria destas espécies também ser mais ativa durante o início e o fim do dia, ou mesmo durante a noite, são animais muito esquivos. Preferem não ser vistos. Daí que se procure também marcas da atividade destes animais, como maneira para os conhecermos melhor. Por exemplo, a análise das fezes de lontra (Lutra lutra) permite saber mais sobre os hábitos alimentares da espécie, ou as pegadas de raposa (Vulpes vulpes) que nos dão informação sobre os seus locais de preferência. Um autêntico trabalho de detetive! Também entre os mamíferos, algumas espécies têm estatuto de conservação preocupante e elevado estatuto legal de proteção, como a já referida lontra, que está sinalizada como Quase Ameaçada, e a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), Em Perigo. Estas espécies constam no Anexo II e IV da Diretiva Habitats e, se nada for feito, estas espécies, à semelhança de outras, poderão extinguir-se. Os roedores fazem um som característico enquanto se alimentam. Roem coisas relativamente duras e, se estiver atento, poderá ter a sorte de localizar um esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris), ou um rato-de-água (Arvicola sapidus), que se alimenta essencialmente de talos e folhas de plantas que crescem nas margens do rio. Este último pode ser presa de várias espécies, sendo alguns dos seus predadores a lontra, a raposa e o sacarrabos (Herpestes ichneumon), este último presente no Anexo V da Diretiva Habitats. Por que é que várias espécies de animais são mais ativas durante o amanhecer, entardecer ou durante a noite? Por causa das condições ambientais e pela maior probabilidade de conseguirem alimento e de escaparem a potenciais predadores. É o caso da geneta (Genetta genetta), de hábitos noturnos, que consta no Anexo V da Diretiva Habitats. Quando avistadas, são frequentemente confundidas com um gato, no entanto são mais delgadas, têm uma cauda espessa com anéis escuros e claros alternados, o focinho é afilado e tem manchas brancas debaixo dos olhos. O morcego é outro exemplo de mamífero que prefere viver durante alturas do dia com menor luminosidade. Nesta zona pode encontrar algumas espécies, por exemplo o morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus), que é o morcego mais pequeno da Europa. É possível observá-lo junto a pontos de iluminação urbana, onde se concentram os insetos dos quais se alimentam. Temos ainda o morcego-de-água (Myotis daubentonii), que se alimenta quase exclusivamente de insetos pousados ou que sobrevoam a água. Ambas as espécies estão incluídas no Anexo IV da Diretiva Habitats.

 

Nas águas do rio, encontramos a boga (Chondrostoma polylepis), o bordalo (Rutilus alburnoides), a lampreia (Petromyzon marinus), a lampreia-de-rio (Lampetra planeri), o ruivaco (Rutilus macrolepidotus), o sável (Alosa alosa) e a savelha (Alosa fallax), todas presentes no Anexo II da Diretiva Habitats. A lampreia-de-rio é uma espécie migradora que merece atenção, por vários motivos. Primeiro, porque faz parte da cozinha tradicional da região.Anualmente é organizado o evento Rota da Lampreia e da Vitela, bastante procurado pelos apreciadores. Segundo, pelos hábitos algo estranhos da lampreia, aos olhos do ser humano, pois é um animal que permanece a maior parte do tempo enterrado! E, como se não bastasse, na fase adulta não se alimenta. Mas, mais importante, está Criticamente em Perigo e o rio Vouga é um dos poucos locais de ocorrência confirmada. Entre as principais ameaças a estas espécies migradoras estão as intervenções ao nível da regularização do curso de água, florestação intensiva nas proximidades e a poluição.

 

Também presentes no Anexo B-II e IV da Diretiva Habitats estão invertebrados, como é o caso do mexilhão-de-rio (Unio crassus). O rio Vouga é ainda importante na conservação dos répteis e anfíbios que dependem diretamente das suas águas para sobreviver, como é o caso do lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) e da salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica). Ambas as espécies são endémicas da Península Ibérica, têm estatuto de Quase Ameaçado e constam no Anexo II e IV da Diretiva Habitats.

Freguesia Paradela do Vouga
Localização Paradela do Vouga
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